27/09/2009

Azul da cor do mar

tim

A imortalidade física é um castigo. A delícia da vida reside-lhe na fluidez. A vida é fugaz. Só a morte é eterna.

A imortalidade é a lembrança que vive na saudade dos que fenecem. Como disse Gibran, a única distância é o esquecimento.

Tim Maia tinha aquele conjunto inespecífico de personalidade a que chamamos de carisma. Ele era, a todo momento, o Tim Maia: sempre representava o seu próprio papel. Era controverso e arredio. Uma vez no palco, no entanto, dava o recado com talento.

No fundo, todo artista quer, como Cacilda Becker, morrer no palco. Longe de ser uma tragédia, tal fato ao artista seria uma glória, pois a doença que prostra tira a dignidade e o artista detesta não parecer belo. A morte no palco é uma apoteose quando a fama já se consolidou.

Tim Maia saiu dos primeiros acordes do show, onde só conseguiu cantar duas frases da primeira música, para a sua derradeira viagem, rumo à indesejada das gentes.

A plateia que o assistiu sair do palco sem maiores explicações e o esperou voltar, jamais imaginou que estava vendo ali os últimos passos do cantor.

A saída de Tim Maia do palco, aquela noite, era um show à parte, que só seria entendido no início da tarde de domingo, 15, quando uma septicemia lhe calou a voz.

Sempre que eu lembro de Tim Maia me vem à cabeça “Azul da cor do mar”. Para mim é a marca registrada do cantor. A música só fica boa na voz do Tim e ele a cantou como ninguém jamais conseguiu.

Como disse Somersat Maughan, a realidade seria insuportável se não fosse o sonho. O sonho para o Tim acabou, a morte o fez acordar.

Para nós o sonho continua. Que seja, então, um sonho todo azul, azul da cor do mar…

3 comentários:

Anônimo disse...

Parsifal, és um poeta! Sabias disso? Um abraço.

Parsifal disse...

Obrigado.

Anônimo disse...

Pode ser pra você. De qualquer forma já somos imortais em espírito que mal há em sermos fisicamente?Há coisas piores acontecendo no mundo da ciência, Como a fabricação de armas de guerra agrotóxicos, Transgênicos etc. Todo mundo gostaria de ter a juventude eterna. Não vejo nenhuma beleza ou poesia em envelhecer se tornar doente e outras coisas que a velhice traz.

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